Amai-vos

    A liturgia deste XXX domingo do tempo comum nos apresenta a realidade do maior mandamento. É a pergunta que está no Evangelho deste domingo: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” perguntam ao Senhor para tentar apanhá-lo em armadilha. Ou seja, qual o preceito que, sendo observado, resume a observância de toda Lei? Jesus responde prontamente: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!” Como bom judeu, o Senhor Jesus nada mais faz que retomar o preceito do Antigo Testamento: Amar a Deus! que é também a oração diária do povo de Israel. Amá-Lo dessa forma significa fazer d’Ele o tudo da nossa existência, significa viver a vida aberta para Ele, buscando a Sua santa vontade. Amá-Lo é não conceber a vida como algo que é meu em sentido absoluto, mas um dom que recebi de Deus, que em diante de Deus devo viver e a Quem devo, um dia, devolver com frutos.
    Na primeira leitura (Ex 22,20-26) os versículos nos ensinam a proteger os pobres, especialmente os órfãos e as viúvas. Ensina também a não cobrar juros a alguém do próprio povo de Israel e a não guardar o agasalho do pobre como penhor durante a noite, pois ele precisa dele para se proteger contra o frio. É o chamado “código da aliança”. Para um tempo de rejeição dos estrangeiros, esse texto questiona a situação de muitas regiões e povos.
    A segunda leitura (1Ts 1, 5c-10) nos mostra que devemos ser imitadores do Senhor. Paulo elogia a comunidade de Tessalônica pelo comportamento que se difunde como exemplo em Jesus Cristo.
    No Evangelho (Mt 22, 34-40) Jesus é interpelado pelos fariseus. Eles querem saber qual é o maior dos mandamentos. Jesus responde, buscando fundamentação em duas passagens da Bíblia: “Amarás o Senhor teu Deus com todas…” (Dt 6,5). E, “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Seguindo ainda a tradição judaica do Antigo Testamento, ele liga, condiciona o amor a Deus ao amor aos outros, aos próximos, àqueles que a providência divina coloca no nosso caminho: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos”. Eis, portanto: a medida da verdade do amor a Deus é o amor, a dedicação para com os outros; e não os outros teoricamente, mas os próximos: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo!” Estes preceitos já valiam para um bom judeu. Jesus está respondendo a um fariseu, um escriba judeu. Basta recordar como a primeira leitura de hoje, tirada da Torah, da Lei de Moisés, já ligava os dois amores, a Deus e ao próximo.
    Jesus coloca o Amor de Deus e ao próximo como o centro essencial da Lei. Esses dois mandamentos são a expressão maior da vontade de Deus. É o resumo de toda a Bíblia. Podemos dizer que Jesus convida à alegria, porque é um apelo ao amor. O mandamento do amor é ao mesmo tempo o da alegria, pois esta virtude ensina São Tomás: “não é diferente da caridade, mas um certo ato e efeito seu”. Por isso, um dos elementos mais claros para medirmos o grau da nossa união com Deus é verificarmos o nível de alegria e bom humor que pomos no cumprimento do dever, no trato com os outros, à hora de enfrentarmos a dor e as contrariedades.
    “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração” (Mt 22,37). Mas, como amar? O Catecismo nos diz que a maneira concreta de amar a Deus é viver as virtudes teologais: fé, esperança e caridade (cfr. Cat. 2086). Quando a graça de Deus atingiu a nossa vida, nós, sendo o que somos, passamos a ser o que não éramos: filhos no Filho. Todo o nosso ser foi elevado à vida sobrenatural: nós passamos a ser templos de Deus, moradas do Altíssimo.
    O nosso amor a Deus revela-se nos pequenos acontecimentos de cada dia: amamos a Deus e aos irmãos através do trabalho bem feito, da vida familiar, das relações sociais, do descanso. Tudo pode converter-se em obras de amor. O amor a Deus deve ser supremo e absoluto. O amor a Deus manifesta-se necessariamente no amor aos outros. O sinal externo da nossa união com Deus é o modo como vivemos a caridade com os que estão ao nosso lado. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos. Jesus nos fará dar passos a mais nesse sentido ao dizer que devemos “amar como Ele nos amou”, ou seja, dando a vida uns pelos outros.
    Peçamos a Virgem Maria nos ensine a corresponder o amor do seu Filho e assim possamos também amar o nosso próximo. Saibamos amar os nossos irmãos com obras e não apenas com palavras como bem vai nos lembrar o I Dia Mundial dos Pobres que celebraremos no próximo XXXIII domingo do ano.  


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